Documento alerta para preços abusivos e pede que parte do evento seja transferida, caso logística e hospedagem não sejam resolvidas
Marina Verenicz
01/08/2025
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A menos de 100 dias do início da COP30, 25 países signatários da conferência climática da ONU enviaram uma carta à organização do evento e à UNFCCC cobrando soluções urgentes para o alto custo da hospedagem e a precariedade logística em Belém (PA), cidade-sede da conferência. O texto pede garantias mínimas de estrutura e sugere que, caso os problemas persistam, parte da conferência seja transferida para outro local.
O documento, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, faz críticas diretas à escalada nos preços de hotéis, à oferta insuficiente de leitos, à insegurança e à dificuldade de deslocamento na capital paraense.
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Entre os signatários, estão representantes de países desenvolvidos como Áustria, Bélgica, Canadá, Suécia e Suíça, além de blocos de negociação como o Grupo de Países Menos Desenvolvidos (LDC) e o Grupo de Negociadores Africanos.
"Se a COP inteira for mesmo acontecer em Belém, essas condições precisam ser garantidas", diz a carta. "Se não forem atendidas, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso."
Pressão internacional
Embora o texto reconheça o esforço do governo brasileiro na organização da COP e celebre a escolha de Belém como sede simbólica de um evento climático, o conteúdo da carta representa uma crescente pressão diplomática sobre o Planalto, especialmente em um evento que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trata como vitrine internacional de sua agenda ambiental.
O presidente da COP, André Corrêa do Lago, confirmou nesta quinta-feira (31) que alguns países pediram o deslocamento do evento. "Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que estão provocando", afirmou.
Estouro de preços
Desde o anúncio de Belém como sede da COP, os preços de hospedagem dispararam - e o déficit de leitos passou a ser tratado como um dos maiores desafios logísticos da história recente da conferência.
Para tentar conter os danos, o governo tem avaliado alternativas como o uso de residências do programa Minha Casa, Minha Vida, escolas públicas, Airbnb e até navios cruzeiros atracados na região. Também foram abertas apurações internas sobre possíveis práticas abusivas do setor hoteleiro.
A plataforma oficial de hospedagem da COP foi lançada com atraso e é inicialmente restrita aos países participantes. O governo brasileiro se comprometeu a garantir:
• 15 quartos por até US$ 200 para países menos desenvolvidos e insulares
• 10 quartos por até US$ 600 para os demais países
O total reservado é de 2.500 quartos, o que representa apenas 5% da demanda estimada para as cerca de 50 mil pessoas que devem participar do evento.
Países rejeitam propostas
O documento revela também insatisfação com o pedido do Brasil para que as nações reduzam suas delegações. Os países alegam que há limites operacionais e diplomáticos para reduzir os participantes, já que os temas da COP são negociados simultaneamente em diversas frentes.
Além disso, os signatários criticam a falta de transparência sobre os critérios para acomodação e a possibilidade de representantes terem que dividir quartos para cortar custos.